Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Não existem dados oficiais para quantificar o número de
crianças e adolescentes que desaparecem todos os anos no Brasil. Mas uma
pesquisa divulgada pela Rede Nacional de Identificação e Localização de
Crianças e Adolescentes (RedeSap), uma parceria entre o Ministério da
Justiça e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, mostra que, entre
janeiro de 2000 e março deste ano, 1.237 crianças e adolescentes foram
incluídos no cadastro de desaparecidos. Desse total, 644 foram
encontrados.
Em 487 casos, conflitos familiares foram a principal causa do
desaparecimento. Conflito de guarda e subtração de incapaz também são
motivos recorrentes que levam crianças e adolescentes a fugir de casa,
com o registro de 87 casos, seguidos de sequestro, com 59 casos. Mas os
dados não estão atualizados e estão longe de representar a realidade.
Entre janeiro do ano passado e março deste ano, apenas 48 casos de
crianças e adolescentes desaparecidos foram notificados nesse sistema,
36 no Pará, quatro em Sergipe, três no Rio de Janeiro, três em Goiás e
dois no Rio Grande do Sul.
Em São Paulo, por exemplo, que é o estado que costuma registrar o maior
número de desaparecimentos, não consta nenhum registro referente ao ano
passado. Só em São Bernardo do Campo (SP), segundo a psicóloga e
educadora Vania Brito Caires, 205 casos de crianças e adolescentes
desaparecidos foram notificados no ano passado às autoridades policiais.
“Isso é uma coisa muito triste. Durante 15 anos eu lutei, falei e
gritei aos quatro cantos do mundo que sentia vergonha de dizer que no
país nós tínhamos o Cadastro Nacional de Veículos Roubados e não
tínhamos de pessoas desaparecidas”, criticou Ivanise Esperidião da Silva
Santos, presidente e fundadora da Associação Brasileira de Busca e
Defesa à Criança Desaparecida, mais conhecida como Mães da Sé. Ela é mãe
de uma criança desaparecida desde 1995.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Justiça afirmou que a página do ministério na internet,
que disponibiliza essa estatística, é responsabilidade da Secretaria
Especial de Direitos Humanos. A secretaria, por sua vez, respondeu que a
página está sob gestão do Ministério da Justiça e é abastecida por
delegacias de Polícia, com a colaboração de organizações não
governamentais (ONG) parceiras.
O estado de São Paulo não faz um balanço exclusivo de crianças e
adolescentes desaparecidos. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de
SP, entre crianças, adolescentes e adultos, foram registradas 20,2
queixas de pessoas desaparecidas no ano passado. Desse total, 15,1 mil
casos foram esclarecidos. No ano anterior, foram 19,7 mil registros de
pessoas desaparecidas em todo o estado, com 16 mil casos esclarecidos.
Em 2007, o desaparecimento de crianças e adolescentes motivou a
abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Câmara dos
Deputados. O relatório final da CPI foi divulgado em novembro do ano
passado e estimou que o número de crianças e adolescentes que
desaparecem no Brasil chega a 40 mil por ano. Só em São Paulo, esse
número estaria próximo de 9 mil casos anuais. A CPI sugeriu a criação de
um cadastro nacional de desaparecidos, o que ocorreu em dezembro de
2009 e que tem por objetivo reunir os cadastros de desaparecidos
notificados pelas delegacias de polícia de todo o país.
“Trabalhamos durante um ano na criação desse cadastro. Ele foi lançado
há um ano, em fevereiro de 2010, mas, infelizmente, esse cadastro não
está operando até hoje. Isso é uma falta de interesse pelo problema. É
uma falta de respeito comigo e com milhares de mães que, assim como eu,
procuram seus filhos há dias, meses, anos. Se esse cadastro não estava
pronto para ser operado, por que ele foi lançado?”, reclamou Ivanise. “O
problema do desaparecimento é tratado com abandono muito grande.
Ninguém assume a gravidade do problema. E sabe por quê? Porque eles não
vivem isso na pele”.
De acordo com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, o Cadastro
Nacional ainda está sendo consolidado e será um trabalho conjunto entre a
secretaria, o Ministério da Justiça, as instituições parceiras da
RedeSap, delegacias de Polícia, ONGs e conselhos tutelares. Enquanto
esse trabalho não for finalizado, a secretaria informou que divulgará
imagens de crianças e adolescentes desaparecidos por meio da internet, nas páginas www.desaparecidos.mj.gov.br e www.dprf.gov.br, em bilhetes lotéricos e por meio da campanha Siga Bem Criança.
Edição: Vinicius Doria
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