A quantidade de explosivos apreendida na ação das polícias Civil e Militar, em Lajes e Carnaúbas dos Dantas, foi ainda maior do que já havia sido noticiado. Nos dois locais onde a polícia fez buscas, foram localizadas 4,7 toneladas de dinamite e Nitron, um tipo de explosivo em pó, além de metros de estopim e espoletas. Seis caminhonetes foram necessárias para fazer o transporte das apreensões do interior para a capital. Três pessoas foram detidas, duas delas responsáveis pela venda dos explosivos e uma por posse ilegal.
fotos:adriano abreuCúpula
da Secretaria de Segurança e Defesa Social apresenta o balanço da
operação que apreendeu 4,7 toneladas de dinamite e Nitron
O balanço
das apreensões foi apresentado ontem pela manhã, pelo comando da
Polícia Militar e pela cúpula da secretaria de Segurança e Defesa
Social. O comandante da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, coronel
Francisco Araújo, considerou que “foi a maior apreensão dessa natureza
na história do Rio Grande do Norte e uma das maiores do Nordeste”,
disse. A quantidade de explosivos será encaminhada para o Exército
brasileiro, responsável pela regulamentação do comércio desse produto.eficiente
O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Estado, Aldair Rocha, classificou como “eficiente” a ação dos policiais que participaram das ações que deram início a localização e apreensão dos explosivos. “A empresa (localizada em Carnaúbas dos Dantas) onde foi encontrada essa quantidade até que era legal, mas não tinha permissão de comercializar esse tipo de produto e sequer requeria a documentação necessária para pessoas físicas comprarem explosivos”.
A quantidade de 4,2 toneladas de explosivos em pó, conhecido como Nitron – um derivado da nitroglicerina que também pode ser composto por Nitrato de Amônia -, foi achada em um paiol da empresa Comercial Manoel Lucas. “Encontramos 565 quilos em bananas de dinamite dentro dessa empresa. Quando fomos ao armazém tinha mais de quatro mil quilos desse pó, divididos em sacos de 25 quilos”, contou o delegado geral da Polícia Civil, Ronaldo Gomes.
A polícia precisou de reforço para transportar a quantidade. Foram seis caminhonetes, sendo duas da Polícia Civil, duas do Batalhão de Operações Especiais (Bope), uma do Grupo Tático Operacional (GTO) e outra viatura de Currais Novos. Além do pó e das bananas, foram apreendidos oito mil metros de estopim e quatro mil espoletas, acessório indispensável para detonações.
Investigada relação com quadrilhas
Os dois presos por venda ielgal de explosivos são o comerciário Franklin Medeiros Dantas, de 27 anos, e uma outra senhora de 61 anos (identidade preservada em respeito ao estatuto do idoso). Os dois são empregados na empresa Comercial Manoel Lucas. A polícia investiga que se os explosivos usados nos assaltos a caixas eletrônicos, registrados no interior do RN desde julho do ano passado, foram comprados a empresa. O comerciário e a idosa vendiam uma caixa com 150 bananas de dinamite a R$ 190 e uma caixa de espoletas a R$ 125.
A polícia quer saber, agora, a origem dos explosivos e se há ligações com a quadrilha de assaltantes, presa em Goianinha e apontada como o bando que atacava os caixas eletrônicos. “Ainda vamos investigar se os explosivos eram importados ou produto de roubos.
O Exército também participará das investigações ao refazer o trajeto dos explosivos, já que todo o comércio é regulamentado. A empresa em Carnaúba dos Dantas já funcionava há dois anos sem documentação. A delegada Sheila Freitas, permanece com os trabalhos e depoimentos .
A chamada “maior apreensão de todos os tempos” foi mais um “golpe de sorte” e teve início em uma abordagem de rotina para PMs do destacamento do município de Lajes. Um policial foi chamado por moradores da rua Pedro Barbosa, naquela cidade, para conter um popular que estava armado e ameaçando a vizinhança. Heronildes Roberto Soares, o acusado de desordens, já era procurado pela polícia e foi detido durante à tarde da última quinta-feira. Na casa dele, a PM surpreendeu-se ao localizar 31 bananas de dinamite. “Interrogado sobre a compra, ele apontou um comércio em Carnaúba dos Dantas. Montamos um esquema e conseguimos pegar o comerciante em flagrante ao vender uma caixa de dinamites para o Heronildes”, explicou o delegado Ronaldo Gomes.
Foi na Comercial Manoel Lucas que foram encontrados mais 565 quilos em dinamite sem autorização do Exército e nota fiscal. Em um paiol que pertencia à empresa foram localizadas as 4,2 toneladas de Nitron. Os dois empregados e o homem preso em Lajes estão em Natal prestando esclarecimentos.
Explosivo é utilizado para mineração
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a empresa “Dinacon – soluções em desmonte”, a marca que estava estampada em todos os 168 sacos de 25 quilos do Nitron apreendidos no paiol da empresa Comercial Manoel Lucas, em Carnaubas dos Dantas. O assessor técnico da empresa no escritório em Minas Gerais, Sandro Gomide, fez questão de enfatizar: “Nossos produtos são restritos à mineração por seu potencial de destruição. E só vendemos após preencher toda a burocracia exigida pelo Exército”.
fotos:adriano abreuArtefatos podiam ter explodido parte de Carnaúba dos Dantas
Ele
também se mostrou solícito a colaborar com as investigações. “Assim que
formos contatados pelo Exército ou pelo governo do Estado, repassando o
número dos lotes apreendidos, faremos o trajeto e apontaremos
exatamente para quem e o dia que foi vendido”, disse. Sandro também
procurou ressaltar o trabalho do Exército. “A sociedade pode ficar
tranqüila, pois a fiscalização do Exército é rigorosa e nada passaria
facilmente por eles”.Perguntado sobre a capacidade exata de destruição do artefato, assim como a comparação com uma banana de dinamite, o assessor se recusou a dar mais detalhes. “Esses tipos de informações somente respondo com ofício do Exército ou do governo”, concluiu.
Quem também se recusou a repassar qualquer informação sobre a potência e uso de explosivos foi o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tenente coronel Marcos Vinícius. “Ninguém da polícia irá repassar essa informação, porque também serviria para os bandidos. Espero que entendam que essa é uma questão delicada”, disse.
Professor fala sobre riscos do material
Os artefatos apreendidos pela polícia poderiam ter explodido parte da cidade de Carnaúba dos Dantas em apenas dois minutos. A constatação foi feita pelo mestre em explosivos e professor do Instituto Federal de Ensino do Rio Grande do Norte (IFRN), Júlio César de Pontes.
Quem comercializava o artefato em Carnaúba dos Dantas (distante 240 quilômetros de Natal) talvez não soubesse do risco que corria e da possibilidade de mandar, literalmente, “a cidade para os ares”. Parte da população também estava “nas mãos” do proprietário da empresa que vendia os artefatos na cidade.
Para se ter uma idéia do risco, um estopim possui 80 centímetros e, após acionado, tem velocidade de 120 a 140 segundos por metro (dois minutos). A explosão ocorre quase que de imediato. N caso do depósito onde o material estava acondicionado, uma faisca poderia ser a responsável por uma destruição irreparável.
O professor lembra que todo o cuidado é pouco quando o assunto é emulsão explosiva encartuchada. “As pessoas habilitadas sabem como deve ser o manuseio e, por este motivo, não correm risco algum, mas a situação é totalmente inversa quando os artefatos são acondicionados de forma errônea em locais errados, como no caso do depósito em Carnaúba dos Dantas”.
Apenas como exemplo, o professor fez uma comparação. A quantidade apreendida pelos policiais civis e militares – quase cinco toneladas - poderia destruir por completo o Pico do Cabugi, em Lajes que possui altura superior a 400 metros.
Júlio César disse que é errado afirmar que os explosivos apreendidos são dinamites. “Na verdade devem ser chamados de emulsão explosiva encartuchada ou explosivo granulado porque a composição não tem nitroglicerina a base é de nitrato de amônia”, detalhou.
Júlio César acredita que as emulsões encontradas em Lajes e Carnaúba dos Dantas podem estar sendo desviadas de pedreiras. “Ou aqui do Rio Grande do Norte ou, no máximo de minas localizadas no Estado de Pernambuco”.
O mestre em explosivos alerta: “As mineradoras devem manter vigias e alarmes de roubo para evitar que sejam desviados artefatos. “Qualquer suspeita de roubo a polícia deve ser avisada, por meio, de boletins de ocorrência. É necessário que o procedimento seja feito para evitar problemas posteriores”.
Fonte: Tribunadonorte
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