Baião-de-dois, picado, buchada, cachaça e mais uma roda de
sanfoneiros sentados em cadeiras simples de madeira em homenagem ao
criador do forró autêntico e expressão máxima da simplicidade sertaneja.
Talvez fosse assim o aniversário de Luiz Gonzaga, se estivesse vivo.
Seu Lua completaria 98 anos nesta segunda-feira, 12. Um documento aqui e
outro ali, e se monta uma biografia e uma discografia das mais
impressionantes do cancioneiro musical do mundo. Pouca gente sabe, mas
foi Gonzagão o idealizador do casamento originário do forró, entre a
sanfona, o triângulo e a zabumba. O mais interessante é saber como
surgiu a ideia. O depoimento é do próprio Gonzaga, em 1973 no programa
comandado por Julio Lerner, o Radiola TV (TV Cultura). As imagens em
preto e branco traz, além do relato, a figura de Dominguinhos ainda
meninote e o filho Gonzaguinha entrevistando o Rei do Baião.
"Por que utilizar somente o triângulo, o zambumba e a sanfona; por
que só o trio?". E o pai responde:"Eu vinha cantando sozinho, mas eu
precisava de um ritmo, porque a música nordestina precisava de côro.
Côro que eu digo é côro de cachorro, côro de bode; um negócio pra bater,
que no Rio de Janeiro se usa côro de gado, né? Então, primeiramente eu
criei o zabumba baseado nas bandas de côro lá do sertão, aquelas que nós
chamamos de esquenta muié. Mas a zabumba só... eu fiquei assim com a
asa quebrada. Eu precisava descobrir um instrumento bastante vibrante,
agudo, pra brigar com a zabumba. Até que vi passar no Recife, um menino
vendendo cavaco chinês, com aquele tubo nas costas, tocando o tinguilin,
como ele chamava. Aí, ele fazia aquilo com uma certa cadência, né?
Pronto, achei o marido da zabumba".
Novo ritmo
A frieza do diálogo entre pai e filho que até viveram relações
tumultuadas em certa época, foi quebrada em seguida, quando Gonzaguinha
pergunta da infância pobre do pai lá em Exu, sertão pernambucano: "Minha
infância foi pobre, mas não infeliz, porque uma criança não pode saber
que é infeliz desde quetenha o carinho de seus pais. E isso não me
faltou em casa. Você também sabe bem disso".
E nesta simplicidade tão rica, Gonzagão cantou os sofrimentos e
costumes de sua terra e mostrou ao mundo um novo ritmo. Mesmo emanado
dos rincões nordestinos, o Forró, Xote, Xaxado ou Baião é pouco
considerado representativo da música brasileiro, muito mais exportador
de Bossa Nova e do Samba. Mesmo Asa Branca (composta em parceria com o
advogado cearense Humberto Teixeira) sendo quase tão regravada quanto
Garota de Ipanema.
Fonte: DNonline
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