Sargento Danúbio Velloso |
Ele bem que avisou. “Rapaz, não precisa fazer isso. Pega minha bíblia do chão. Devolve pra mim”.
Além de não lhe darem ouvidos, seus raptores fizeram pior: pisaram na
escritura. Debocharam. Fizeram pouco caso. Desrespeitaram sua religião.
Agora, além de terra e lama, há manchas de sangue no livro sagrado.
Sangue dos dois jovens que não obedeceram e foram mortos.
Não foi por este motivo que
Daniel Lima da Silva, de 16 anos, perdeu a vida. Muito menos seu
comparsa, um rapaz que só foi identificado até o momento como Queixinho.
Ambos foram baleados fatalmente porque raptaram um policial do Batalhão
de Operações Policiais Especiais, o BOPE.
Tudo aconteceu na noite da
última sexta-feira. Porém, foi somente ontem, com exclusividade ao NOVO
JORNAL, que o 2º sargento Danúbio Velloso de Castro Filho, de 42 anos,
concordou em falar sobre os momentos de angústia por que passou.
“Tive muito medo. Quando eles me levaram para o meio do mato eu tinha certeza que iria morrer”,
revelou o combatente. Casado e pai de dois filhos, Danúbio admitiu à
reportagem que não conseguiu pensar em outra coisa se não em sua
família. Todos nasceram e moram em Brasília. Ele também nasceu no
Distrito Federal, mas já mora na capital potiguar desde o dia 10 de
julho do ano passado, quando veio transferido para complementar a equipe
de tripulantes operacionais do helicóptero Potiguar 1, aeronave da
Secretaria de Segurança Pública e da Defesa Social do Rio Grande do
Norte. “Hoje meu trabalho é esse. Empreendo patrulhamentos diários
sob o céu da capital, atendo a ocorrências emergenciais e realizo
salvamentos em áreas de difícil acesso, seja na terra ou no mar”, explicou o policial.
Mas, felizmente para o sargento
há episódios que não se esquecem. Além de fazer parte da tropa de elite
da Polícia Militar, o combatente também é um dos cinco integrantes da
Força Nacional de Segurança Pública em atuação no Centro Integrado de
Operações Aéreas, o CEIOPAER. Antes de chegar ao RN, Danúbio participou
de operações militares nos estados de Goiás, Rio de Janeiro, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Pará. Fora isso, possui 22 anos de
carreira e já concluiu mais de 20 cursos de capacitação em técnicas e
táticas policiais, entre eles um realizado nos Estados Unidos sobre
situações de perigo envolvendo explosivos. É, portanto, mais do que
treinado para intervir em ocasiões de crise e risco extremo, como
confrontos armados.
“E foi exatamente isso o que aconteceu naquela noite, quando fui rendido na saída do meu apartamento”,
contou ele, ao relembrar da ocasião em que foi abordado em frente ao
Hotel Rifóles, na praia de Ponta Negra. Com uma arma apontada para a
cabeça, ele foi raptado em seu próprio veículo. De Ponta Negra até a
Zona Norte, onde os dois assaltantes foram baleados, Danúbio passou
quase uma hora como refém. No trajeto, sem nada poder fazer, presenciou
três pessoas serem assaltadas, sofreu um soco na boca e quase foi
executado no meio de um matagal.
“Eu não tive alternativa. Tive que reagir. Eu matava ou morria”, justificou o sargento.
Foi o que ele fez. Na primeira
oportunidade, no primeiro vacilo dos criminosos, Danúbio não hesitou.
Sacou a arma que escondida por baixo da camisa e abriu fogo. Por isso
Daniel e Queixinho morreram. Por isso o sargento matou.
“Não tenho remorso ou
qualquer tipo de arrependimento. Também não tenho insônia, consciência
pesada ou dificuldades para dormir. O que existe é o sentimento de dever
cumprido. A certeza que fiz o que pude para salvar minha vida”, disse ele.
EVANGÉLICO, SARGENTO LEMBRA QUE BANDIDOS DEBOCHARAM DE RELIGIÃO
Evangélico
e frequentador assíduo de igreja Assembleia de Deus, o sargento Danúbio
Velloso disse que para onde vai carrega a bíblia. O livro que possui é
bem volumoso, por isso estava no banco de trás do seu carro. E, embora o
fato de os assaltantes terem pisoteado a sagrada escritura não tenha
sido o estopim para sua reação, ele não esquece que os bandidos
debocharam de sua religião.
“Teve uma hora, pouco antes
de eu ter que agir, que um dos assaltantes jogou a bíblia no chão e
pisou em cima dela. Com Deus ninguém brinca. Eles desafiaram o Senhor”, comentou.
“E eu ainda disse pra ele na
fazer aquilo. Disse bem assim: rapaz, pega minha bíblia do chão. Devolve
pra mim. Você já pegou meu celular e meu dinheiro, não precisa fazer
isso”, acrescentou.
Foi nessa hora, ainda de acordo
com Danúbio, que uma viatura surgiu e os dois rapazes começaram atirar
nos policiais que se aproximavam. Atentos apenas com o carro da polícia,
o sargento aproveitou a situação e disparou contra os dois.
“Depois a viatura se
aproximou, eu me identifiquei e socorremos um dos assaltantes. Hoje eu
sei que ele não resistiu e morreu no hospital. Mas, sinceramente,
desejei que ele tivesse sobrevivido. Queria ele vivo. Vivo ele teria
chance de se reabilitar”, ressaltou o policial.
Por fim, o sargento mostrou ao repórter a bíblia ainda ensanguentada. Sangue dos bandidos que ele teve de confrontar. “Não vou limpá-la. Vou mandar plastificar e guardar assim mesmo,com sangue. Será o meu troféu da vitória”, encerrou.
Fonte: Novo Jornal
Via: O Guardião da Serra
Nenhum comentário:
Postar um comentário