A
Prefeitura de Ribeirão Pires programa iniciar nas próximas semanas a
contratação de policiais militares para trabalhar no município nos
horários de folga. Trata-se do programa chamado Atividade Delegada, que,
na prática, oficializa os bicos feitos por policiais militares fora do
horário de trabalho, com a diferença de que usarão todo o aparato do
Estado, de farda a veículos. O projeto já foi aprovado pela Câmara e
depende agora de assinatura de convênio entre a administração e a
Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Cada
policial militar receberá aproximadamente R$ 98 por dia trabalhado fora
do expediente. A jornada extra terá, no máximo, nove horas e foi
estabelecido limite de até 12 dias adicionais por pessoa. O comandante
da Polícia Militar no Grande ABC, coronel José Luís Martins Navarro,
explica que a adesão aos bicos será voluntária. "O próprio policial irá
decidir se quer ou não trabalhar na folga. Isso não será imposto",
garante.
A renda adicional será
paga pela Prefeitura. Ou seja, o contribuinte pagará duas vezes pelo
trabalho dos policiais militares, que já têm o salário
pago pelo Estado. Em São Paulo, o salário inicial de um Polícia Militar
que atua em cidades grandes é de R$ 2.170. A jornada é de 12 horas de
trabalho e 36 horas de folga.
Na opinião
de Navarro, a Atividade Delegada beneficia o município e o policial.
"Para a cidade é bom, pois é um aumento no efetivo. Para o policial é um
aumento na renda, além de mais segurança para ele, que terá à
disposição toda a estrutura da PM. Em um bico externo corre-se muito
mais riscos."
O prefeito de
Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV), informa que pretende contratar 16
policiais militares para aumentar o efetivo no município. O reforço
ficará espalhado pela área central, a partir das 14h.
Para especialista, medida deve ser temporária.
O
ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho
afirma não ver problemas na oficialização dos bicos dos policiais
militares, desde que a medida seja emergencial e temporária. Silva
Filho, que é coronel da reserva da Polícia Militar, considera que se os
policiais ganhassem salários melhores não precisariam fazer bicos - dentro ou fora da corporação.
"O
ideal seria trabalhar um pouco menos e ganhar um pouco mais. Se o
policial ganhasse na faixa de R$ 3.000, ele poderia abrir mão de bicos
para descansar e conviver com a família", avalia. Atualmente, um soldado
que entra na Polícia Militar trabalhando em cidades grandes recebe R$
2.170.
O especialista defende a redução
da jornada de trabalho de 12 para oito horas. "É desumano para o sujeito
ficar 12 horas em pé ou dentro de uma viatura", acrescenta.
Apesar
das críticas, Silva Filho admite que o bico dentro da corporação expõe o
policial a menos riscos do que as atividades executadas em outros
locais. "É um mal menor. Pelo menos ele tem garantias e segurança, e não
está fazendo trabalho de leão de chácara. Mas o ideal é que não
houvesse esse mal", salienta.
Para ele, não há problemas no efetivo da Polícia Militar. "O número está adequado. O que pode haver são demandas sazonais."
Guardas-civis reclamam do investimento na PM
O
presidente do Sindguardas (Sindicato dos Guardas-Civis Municipais
Ativos e Inativos de São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires), Nilton
Taveira, criticou a possível adesão da Prefeitura de Ribeirão Pires ao
programa Atividade Delegada. Para Taveira, o convênio a ser firmado
entre as administrações é "imoral".
"O
governo do Estado já paga salário para os policiais militares. O que a
Prefeitura de Ribeirão Pires precisa fazer é investir e valorizar a GCM
(Guarda-Civil Municipal), que é do município."
O
salário de um guarda-civil de Ribeirão Pires é de cerca de R$ 850. O
policial militar que aderir à Atividade Delegada poderá receber até R$
1.176 por 12 dias trabalhados.
O
ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho
discorda da ideia de aumentar os investimentos na GCM. "Sem
desmerecimento, mas a GCM não tem poder de polícia. A Constituição não
lhe dá esse poder, então não pode fazer trabalho de policial. A
Constituição diz quais são os órgãos policiais do País, e não chega na
GCM", diz o coronel da reserva.
- Sgt Wellington - Colaborador
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