sábado, 31 de julho de 2010

Quadrilha aliciava mulheres no Oeste


A Operação Arcanjo, deflagrada na madrugada de ontem pela Polícia Rodoviária Federal e o Ministério Público Estadual, resultou na prisão de quatro pessoas que integravam uma quadrilha de aliciamento de mulheres, com atuação na principal na região Oeste. Com ajuda da Polícia Civil e Militar, foram cumpridos ainda sete mandados de busca e condução coercitiva. Entre os clientes do esquema de prostituição estavam políticos, empresários e profissionais da “alta sociedade”.

As prisões incluíram uma mulher e três homens, um dos quais se encontrava de férias em Brasília e os demais em Apodi. Os mandados foram cumpridos também em Umarizal e Portalegre. Os “serviços” da quadrilha eram oferecidos nesses municípios e também em Mossoró e Natal. Em entrevista coletiva no final da manhã de ontem, o promotor de Justiça Olegário Gomes e o superintendente da Polícia Rodoviária Federal-PRF, Francisco Charles Lindemberg, deram informações sobre a operação, mas afirmaram que os nomes dos presos serão mantidos sob sigilo, bem como os dos clientes.

Aqueles que forem identificados serão ouvidos e responderão a inquéritos à parte. “Temos de dissociar o cliente, do aliciador e do articulador do esquema, mas (a prática dos clientes) também é crime, agora precisamos ver qual a situação de cada um. Por exemplo, quem manteve relações com as adolescentes”, afirmou o promotor. Após nove meses de investigação, 36 mulheres vítimas de aliciamento foram identificadas e outras duas, que não faziam parte da lista inicial, foram encontradas durante a operação.

Pelo menos três das mulheres eram menores de idade, a mais nova com apenas 14 anos, e outra acabou de completar 18. Elas eram aliciadas pelos integrantes da quadrilha em áreas carentes dos municípios da região, mas permaneciam em suas casas, ou outros locais, já que não havia um ponto único para a realização dos encontros entre as jovens e os clientes.

O “convite” para entrar no esquema vinha junto a ofertas de ganhos rápidos. Os programas variavam de R$ 30 a R$ 500 e os aliciadores ficavam com 30%. “Era uma organização voltada para um ‘serviço de luxo’. Não estamos lidando com violência física, ou agressões, mas com uma violência psicológica e social que deixa marcas fortes nas vítimas e até na comunidade, que fica estigmatizada”, criticou Olegário Gomes, que atua em Mossoró e ocupa provisoriamente a coordenadoria do Centro de Apoio às Promotorias da Infância, na capital.

Ele lembrou que o crime de aliciamento se torna ainda mais “sórdido” por envolver mulheres em “graves condições de vulnerabilidade”, devido à pobreza de suas famílias. Do outro lado do esquema, a quadrilha entrava em contato, por telefone ou pessoalmente, com políticos, empresários e demais interessados, oferecendo os “serviços sexuais” das garotas. Havia contatos até com clientes de Fortaleza e estrangeiros também vinham sendo contatados.

Olegário Gomes e o superintendente Francisco Lindemberg não descartam a possibilidade de novas prisões serem decretadas em breve e nem mesmo de o esquema ter ramificações em Natal e outros estados próximos. Tudo isso, no entanto, só será esclarecido com a continuidade das investigações, que não têm data para serem concluídas.

Dez equipes cumprem os mandados

As investigações que levaram à Operação Arcanjo se iniciaram ainda no final de 2009. Na madrugada de ontem, uma reunião realizada em Mossoró, por volta das 2 horas, definiu o papel de cada participante da operação e as 10 equipes, com um promotor cada e 36 policiais rodoviários federais ao todo, começaram a cumprir os mandados por volta das 5 horas, ao nascer do sol. Em Brasília, o quarto integrante da quadrilha foi preso por equipes do Distrito Federal.

Na entrevista coletiva de ontem não foram explicados detalhes a respeito das investigações. O procedimento, porém, teve início com o trabalho da Promotoria Criminal de Apodi, com apoio do Grupo de Atuação Especial de Repressão à Criminalidade Organizada (Gaerco). Durante a operação, MP e PRF receberam o apoio dos efetivos da Polícia Civil e Militar na região. Muitos pais das garotas aliciadas não sabiam do envolvimento das filhas.

As mulheres vítimas da quadrilha serão ouvidas e o objetivo do Ministério Público é que todas sejam inseridas em programas sociais e profissionalizantes que as ajudem a entrar para o mercado de trabalho.

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